26 de jun. de 2015

A Adúltera (por Bert Hellinger no Livro As Ordens do Amor)

A Adúltera (por Bert Hellinger no Livro As Ordens do Amor)

Certa vez, em Jerusalém, um homem desceu do Monte das Oliveiras, em direção ao Templo. Quando penetrou no recinto, alguns eruditos "justos" arrastavam uma jovem mulher. Cercando o homem, eles a colocaram diante dele e lhe disseram: "Esta mulher foi apanhada em adultério. Moisés nos ordenou na lei que seja apedrejada. O que você diz a respeito?"

Na verdade, não estavam interessados na mulher nem na ação dela. O que lhes interessava era preparar uma armadilha para um ajudante que era conhecido por sua brandura. Eles se indignavam com sua indulgência e, em nome da lei, julgavam-se autorizados a destruir tanto aquela mulher quanto este homem - que nada tinha a ver com a ação dela - caso não compartilhasse de sua indignação.

Vemos diante de nós dois grupos de perpetradores. A um deles pertencia a mulher: era uma adúltera e os indignados a chamavam de pecadora. Ao outro grupo pertencia os indignados: por sua intenção eram assassinos, porém chamavam-se justos.
Sobre ambos os grupos pesava a mesma lei implacável, com a única diferença de que chamava de injusta uma ação má e de justa uma outra, na verdade muito pior.

Porém o homem que tentavam apanhar na armadilha esquivou-se de todos eles: da adúltera, dos assassinos, da lei, do ofício de juiz e da tentação de grandeza. Ele se curvou e começou a escrever com o dedo na areia. Diante de todos eles curvou-se para a terra. 

Quando os indignados não entenderam os sinais que escrevia com o dedo e continuaram a espreitá-lo e pressioná-lo, ele se ergueu e disse: "Quem estiver sem pecado, que seja o primeiro a atirar a pedra." Então curvou-se de novo para a terra e continuou escrevendo na areia.

De repente tudo mudou - pois o coração sabe mais do que a lei lhe permite ou ordena. Os indignados esvaziaram o local da cena e se retiraram, um depois do outro, começando pelos mais velhos.

O homem, porém, respeitou a vergonha deles e permaneceu curvado, escrevendo na areia. Apenas quando todos partiram, ele se ergueu de novo e perguntou à mulher: "Onde estão eles? Ninguém te condenou? - "Não, senhor", respondeu ela. Então, como se partilhasse o sentimento dos indignados, disse à mulher: "Eu também não te condeno".

Aqui termina a história. No texto que nos foi transmitido ainda foi acrescentado: "Não peques mais!" Esta frase, como demonstrou a ciência bíblica, foi um acréscimo posterior, provavelmente de autoria de alguém que não suportou mais a grandeza e a força dessa história.

Mais alguns comentários. Os indignados e a história ignoraram a vítima real - o marido daquela mulher. Se tivessem apedrejado a mulher, ele teria sido duplamente vitimado. 

Agora porém, como os indignados não se intrometem mais entre eles, eles têm a possibilidade de encontrar amorosamente a forma de se compensarem e reconciliarem, começando de novo. Se os indignados se intrometessem entre eles, essa solução lhes seria vedada e a situação ficaria pior, tanto para a acusada quanto para sua vítima.

É o que às vezes acontece com crianças que sofreram abuso, quando não caem nas mãos de pessoas amorosas, mas de pessoas indignadas. Estas pouco se importam com elas. As medidas que propõem e impõem, nascidas de seus sentimentos de indignação, apenas tornam a situação mais difícil para as vítimas.

Mesmo depois de vitimada, a criança permanece ligada e fiel ao autor do abuso. Assim, quando o pai é perseguido e destruído, moral e fisicamente, a criança também morre, moral e fisicamente; ou então, mais tarde, um de seus filhos expiará por esse fato. Esta é a maldição da indignação e a maldição da lei que justifica.

O que, portanto, deveriam fazer os ajudantes que agem a partir do amor?

Eles renunciam a fazer dramas e buscam caminhos simples que possibilitem um novo começo às vítimas e aos autores do abuso, de forma mais consciente e suave. Em vez de dirigir o olhar para uma pretensa lei superior, vêem apenas seres humanos, sejam perpetradores ou vítimas, e se incluem entre eles. Sabem que somente a lei se apresenta como se fosse de bronze e eterna. Na terra, tudo é passageiro e cada fim é seguido por um novo princípio. Sua ajuda é humilde e tem amor por todos: pelas vítimas, pelos perpetradores, pelos incitadores ocultos e pelos vingadores, entre os quais eles próprios já figuraram alguma vez.




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